Vini Jr: Responder aos racistas com luta!

Mais uma vez o futebol fica manchado por um escândalo de racismo. As ofensas racistas a Vinícius Jr., em partida da liga espanhola, no domingo, não foram os primeiros ataques contra o atleta, que tem sido vítima de contínuas manifestações racistas, como gestos e gritos com imitações de macaco – e mesmo ameaças de morte. O próprio jogador, que hoje é um dos maiores do mundo, vem denunciando que os dirigentes da La Liga nada fazem para acabar com os episódios. Pelo contrário, La Liga e parte da imprensa lidam com a situação como se fossem casos isolados, e ainda culpabilizam o atleta, por driblar e dançar. A reação não é a mesma com atletas brancos, como o francês Antoine Griezmann, que comemora gols de forma ainda mais provocativa, dançando e fazendo um “L”, significado de “loser”, em celebração que ficou famosa entre jogadores do game Fortnite. Não podemos nos iludir. O presidente da Liga, Javier Tebas, não vai mexer uma palha para combater o racismo no campeonato espanhol. Javier é muito próximo do franquismo, e apoia abertamente o Vox, um partido de extrema direita que é contra a imigração, contra o direito  aborto e contra o casamento homoafetivo.

Vinícius Junior apenas samba, usa a cultura do povo brasileiro para celebrar um gol. Além disso, lembramos que os casos de ataques racistas de torcedores da liga espanhola não são de hoje, seja com arremesso de bananas em campo, como aconteceu em 2014, gritos com imitações de macacos, contra o camaronês Eto’o, em 2004, ou bandeiras neonazistas erguidas por torcedores, nos anos 1990. Esses episódios e a reação conivente de dirigentes esportivos e patrocinadores mostram como o capitalismo e racismo se relacionam profundamente, com destaque, neste caso, para o continente europeu. Vale lembrar que a liga espanhola é a segunda competição nacional de futebol mais cara do mundo, movendo bilhões de euros, e com jogos transmitidos para todo o planeta, exercendo enorme influência ideológica e cultural. As empresas que patrocinam os campeonatos de futebol nada farão de contundente em relação a esse problema, pois sua preocupação com esses temas é oportunista e instrumental. O capitalismo só visa o lucro e sua suposta preocupação social tem apenas o objetivo de gerar rendimentos e “limpar” a imagem das empresas para atrair consumidores “conscientes”. Enquanto alguns desses patrocinadores tocam campanhas antirracistas e antipatriarcais, hiperexploram trabalhadores negros, mulheres e imigrantes.

A Espanha, que já foi um dos locais mais ativos do anarquismo histórico, cuja experiência mais radical ocorreu de 1936 a 1939, durante a Revolução Espanhola, ainda convive com os esqueletos do franquismo. Com a derrota da Revolução, Francisco Franco (1892-1975) comandou uma ditadura no país de 1939 a 1975. Assim como o Brasil, a Espanha não acertou contas com seu passado.

Cabe apontar que o futebol reflete a sociedade, onde ainda estão muito presentes o racismo, o saudosismo à ditadura, o colonialismo e a xenofobia. Esse caráter ganhou um impulso maior nos últimos anos, com a ascensão das ideias da extrema direita, ainda mais num país como a Espanha. Os crimes da ditadura espanhola contra centenas de milhares de pessoas foram anistiados, e a herança do colonialismo racista do império espanhol junta-se à memória do franquismo, ao medo fabricado da imigração, para produzir o fenômeno contemporâneo desse novo falangismo espanhol de arquibancadas. Mas episódios de racismo no esporte não são exclusivos da Europa, e até recentemente houve cenas lamentáveis em estádios brasileiros.

Vini Jr. é perseguido, pois além de não abandonar suas raízes afrobrasileiras, decidiu enfrentar os racistas, sem o comportamento dócil e conciliador que os grandes dirigentes do futebol e anunciantes esperam. Junto à atitude do jogador, se viu um importante apoio de outros atletas e de boa parte da sociedade, que exige a responsabilização dos racistas, como condição para construir um ambiente mais saudável no futebol. Neste caso, mesmo que o jogador seja alçado a uma condição financeira milionária, o sistema racista faz questão de recordar que ele deveria permanecer numa condição subalterna, de submissão à supremacia branca das elites econômicas/políticas e da extrema direita racista. Reafirmamos que esse tipo de acontecimento é didático para toda a classe trabalhadora. Um momento oportuno para discutirmos o enfrentamento ao racismo e o combate à extrema direita.

O racismo não pode ser tolerado ou relativizado de maneira alguma, dentro ou fora dos estádios de futebol! Cada espaço das classes oprimidas deve ser uma trincheira de combate antirracista! O futebol é um esporte popular, que não pode admitir nem infiltração da extrema direita, nem reprodução do racismo. É preciso se opor a qualquer tipo de gesto, discurso ou piada de cunho racista no esporte, que também é muito marcado pelo machismo e pela homofobia. O combate a essa cultura violenta também faz parte do caminho para a construção do socialismo libertário!

Coletivo Mineiro Popular Anarquista (COMPA)

Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)

Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL)

Rusga Libertária (RL)

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