Neste 18 de novembro de 2019, nossa organização – Organização Anarquista Socialismo Libertário / Coordenação Anarquista Brasileira (OASL/CAB) – completa 10 anos de existência de luta e organização.
Ao fazer um balanço desses últimos 10 anos, podemos afirmar que, modestamente, temos avançado no objetivo que nos propusemos desde o início: contribuir para fortalecer o anarquismo no campo da luta de classes e fazer do anarquismo uma força política relevante nos movimentos e iniciativas da classe trabalhadora do estado de São Paulo.
Na verdade, nosso processo começou antes de 2009. Durante praticamente dois anos, entre 2008 e 2009, sob influência direta da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), estivemos envolvidos num um grande esforço organizativo, que incluiu a realização de dois grandes encontros públicos e de muito trabalho de articulação política.
Dentre nossas influências, além da FARJ, estiveram também o Centro de Cultura Social de São Paulo, que formou os militantes que iniciaram esse processo desde os anos 1990, e também nossos precursores no anarquismo especifista paulista: Luta Libertária e Organização Socialista Libertária.
Com a fundação de nossa organização em 2009, passamos a trabalhar em distintas questões. Estabelecemos e aprimoramos nossa organicidade, criando ao longo dos anos núcleos e pró-núcleos em diferentes partes do estado de São Paulo. Além da capital, conseguimos presença na região metropolitana, no oeste e no nordeste paulista. Aos poucos, e mais recentemente, temos avançando para a baixada santista e o leste paulista.
Articulamos nossas secretarias e frentes, investimos em formação política, produzimos análises de conjuntura e discussões de teoria. Desenvolvemos um programa de formação e estabelecemos relações com anarquistas e não anarquistas, do Brasil e do exterior; enviamos delegações para encontros e eventos dentro e fora do país. Editamos e difundimos material de propaganda e comunicação, promovemos eventos de difusão do anarquismo, de nossa leitura de mundo e de nossa estratégia. Também estivemos presentes, anualmente, nas Feiras Anarquistas de São Paulo. Contribuímos com bastante energia com a construção nacional da CAB.

Nosso primeiro congresso, o I CONOASL, aconteceu durante seis longas sessões, entre os fins de 2014 e início de 2017. Teve como linhas fundamentais as soluções de problemas internos e o estabelecimento, em linha com a CAB, de uma leitura atualizada da realidade e de uma estratégia para o próximo período. Desde então, temos vivido um momento de aprofundamento dos trabalhos e crescimento orgânico.
Nos primeiros cinco anos, nosso trabalho social mais relevante foi com o MST, na regional São Paulo. Por um lado, aprendemos muito, participamos da articulação de importantes lutas e ocupações. Mas por outro, também vivenciamos os limites dessa experiência e da disputa política interna ao movimento. Em 2011, num espaço do movimento, sediamos, junto à Organização Popular Aymberê (OPA), o IX Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas (ELAOPA). Naquele mesmo ano, também sediamos as Jornadas Anarquistas, com presença de organizações de vários países da América Latina.
Nesses dez anos de OASL, contribuímos diretamente com a formação e a trajetória da Resistência Popular Sindical de São Paulo, participando de lutas por local de trabalho em setores como educação, transporte e saúde, tanto no setor público quanto no privado. Esse também foi o caso com as Resistências Populares Estudantis em Marília e São Paulo, que encamparam duras e combativas lutas nas universidades públicas, e também com o Movimento de Organização de Base (MOB), que se articulou por algum tempo na grande São Paulo e na região do Alto Tietê.
Trabalhamos na construção de diversos movimentos sociais comunitários, como o Fórum Popular de Saúde, a Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio e o Projeto Mandela Free, que travaram batalhas por acesso à saúde pública, contra o desmonte do SUS, o racismo, a guerra às drogas e o genocídio e a violência de Estado.
Estivemos à frente do Comitê de Solidariedade à Resistência Popular Curda de São Paulo, apoiando a Revolução de Rojava, e participamos de diferentes iniciativas feministas, que envolveram marchas, atos e campanhas. Esse foi o caso quando nos envolvemos com a Primavera Feminista e o movimento Ele Não.
Tivemos presença, mesmo que modesta, nas Jornadas de Junho de 2013, nas Ocupações de Escolas em 2016, na Greve Geral de 2017 e em recentes Manifestações Antifascistas.
Construímos e engrossamos – em nível nacional, estadual e municipal – inúmeras greves, piquetes, manifestações de rua, incluindo as mais recentes contra a Reforma da Previdência e os ataques à educação pública. Participamos de campanhas como aquela que reivindicava Liberdade para Rafael Braga, e outra que protestava contra o desemprego e o aumento do custo de vida. Também participamos anualmente de atos do Primeiro de Maio, assim como de diversas lutas pela democratização do transporte e de ocupações urbana.
Durante esses 10 anos, fizemos crítica da burocratização dos movimentos populares promovida pelo petismo e, também, da ascensão pública e organizada do conservadorismo. Oferecemos, como contraponto, em teoria e prática, um programa de lutas alternativo, de construção revolucionária à esquerda e pela base, de movimentos populares fortes, classistas, combativos, autônomos e independentes de partidos, do Estado e do capital, que possam encontrar na ação direta e na autogestão e no federalismo sua linha de atuação.
Em resumo, mesmo com a modéstia que nos é tão cara, podemos dizer que muita coisa foi feita nesses 10 anos. Entre altos e baixos, acertos e erros, com nossas limitações e potenciais, avaliamos que temos aberto caminho na direção planejada desde nossa fundação.
E nada disso foi fácil! Contamos com a dedicação de todo um conjunto de militantes que se doaram à causa e, em meio a importantes momentos de alegria, não raro sofreram bastante com isso. Queremos registrar aqui nosso reconhecimento a essa dedicação de nossa militância e também de todas/as aquelas/es que, nesses 10 anos, contribuíram com a recente história do anarquismo especifista em São Paulo.
Mas, como nos indica a conjuntura, ainda há muito mais a fazer. Porque, como disseram nossos coirmãos da FARJ em 2003, “a noite escura passará, e nós trabalharemos para ver o amanhecer”.
Viva a OASL e seus 10 anos!
Viva o anarquismo especifista!
Lutar, criar, poder popular!