As eleições municipais estão se aproximando e, para compreendermos como esse processo interfere de fato na vida da população, realizamos uma análise acerca das forças políticas que compõem o jogo eleitoral na Baixada Santista, especificamente nas cidades de Santos e São Vicente, onde atuamos politicamente nos movimentos sociais.
Em Santos, a imagem construída pela mídia e pela elite local vende a ideia de uma cidade modelo de qualidade de vida, tomando por base, é claro, os bairros da orla. Muito diferente é a realidade dos moradores da Zona Noroeste, onde se localiza a maior favela de palafitas do Brasil, o Dique da Vila Gilda. Santos é só mais um exemplo clássico da desigualdade social que assola as cidades brasileiras.
A principal ferramenta ideológica do empresariado santista continua sendo o Grupo A Tribuna, que possui o maior jornal de circulação da região e uma TV afiliada à Rede Globo. Há algum tempo o grupo tem lançado candidaturas de repórteres carismáticas da TV, resultando na conquista de uma cadeira na câmara municipal e outra na câmara federal.
Quem controla de fato o jogo político?
Boa parte da sociedade ainda nutre ilusões de que as eleições (municipais, estaduais e federais) são realizadas de forma democrática e que os vencedores expressam legitimamente os anseios do povo. Isso é falso. Quem decide o resultado das eleições são as elites locais e os grupos empresariais que investem milhões em campanhas e candidaturas de aluguel para que representem seus próprios interesses e não os da população.
Nas eleições municipais de 2020 concorrem à prefeitura de Santos 17 candidatos.
Rogério Santos (PSDB) aparece como sucessor do atual prefeito Paulo Alexandre Barbosa. A coligação conta com oito partidos (PSDB, PSB, PSL, PP, DEM, Republicanos, Podemos e PL). O candidato, apoiado por boa parte da elite e da mídia local, procura se mostrar como gestor, sem entrar em polêmicas. Na disputa pela liderança também aparecem outros dois candidatos de direita: o candidato Banha (MDB), mestre em demagogia e fisiologismo, que como vereador votou a favor da maioria dos projetos do atual prefeito; e Vicente Cascione (Pros) conhecido pelo seu juridiquês e pela aparência de uma direita “civilizada”. Logo a seguir desponta o bolsonarista Ivan Sartori (PSD), ex desembargador que viralizou nas redes sociais ao se negar a usar máscara na praia em meio à pandemia. Ele também foi o responsável pela anulação do júri que condenou PMs pelo Massacre do Carandiru. A vitória de qualquer um destes significa o aprofundamento dos ataques aos direitos dos trabalhadores, aos serviços públicos, ao meio ambiente, às populações negras, indígenas, e às comunidades LGBTQI.
Todos os candidatos de centro-esquerda ou esquerda não ultrapassaram 2% das intenções de voto nas pesquisas consultadas.
O candidato do PT, Douglas Martins, promete “colocar o povo no orçamento” através de uma maior participação social na gestão. Outros pontos destacados tratam sobre medidas de transferência de renda, criação de moeda social, tarifa zero nos transportes e oposição às OSs no sistema de saúde. Cabe destacar que à revelia das propagandas eleitorais, as experiências administrativas do partido nos mostram que, pelo contrário, os governos petistas foram os que mais estimularam as OSs no setor de saúde e sempre favoreceram as empresas privadas do transporte público.
Guilherme Prado, candidato do PSOL, apresenta um programa voltado para a economia solidária. Entre suas principais propostas estão a criação de um banco e uma moeda social local que subsidiaria um programa de renda básica municipal. O programa também propõe o incentivo às cooperativas de alimentos livres de agrotóxicos e a democratização dos conselhos municipais.
Thiago Andrade (PCdoB) apresenta um programa liberal que promete garantir participação popular e aplicar as diretrizes definidas pela ONU em relação ao Desenvolvimento Sustentável. Cabe dizer que o PCdoB em Santos participou ativamente das gestões anteriores do MDB, fazendo jus à sua estratégia de frente ampla com a burguesia.
Luiz Xavier (PSTU) propõe a formação de conselhos populares nos bairros e locais de trabalho, para que os próprios trabalhadores possam decidir diretamente as políticas de saúde, educação, habitação, etc.
Já em São Vicente, concorrem ao pleito 8 candidatos. De acordo com as últimas pesquisas, três deles disputam a liderança:
Solange Freitas (PSDB), repórter da TV Tribuna, aparece como mais uma aposta do grupo midiático em estender seu poder político na região.
O atual prefeito Pedro Gouvêa (MDB) é o mais puro exemplo de fisiologismo na política. Cunhado do ex-governador Márcio França (PSB), à época vice de Geraldo Alckmin (PSDB), Gouvêa costura um arco de alianças que vai do centrão ao bolsonarismo. Teve sua candidatura impugnada recentemente pela justiça eleitoral a partir de uma denúncia do Ministério Público sobre contas irregulares quando foi presidente da câmara municipal de São Vicente entre 2011 e 2012.
Kayo Amado (PODEMOS) se apresenta como o famigerado “gestor”, capaz de trazer renovação, seriedade na política, ou seja, aquele discurso de sempre. Após a eleição de Bolsonaro decidiu abandonar a REDE e a coligação com o PSOL para entrar no PODEMOS e fazer aliança com o DEM. Mais do mesmo.
Na sequência, longe dos três primeiros, aparecem Luiz Carlos Gianelli (PSD); Analia Maria da Silva (PT) em coligação com o PSOL; Mônica Batalha (PRTB); o ex-prefeito Luís Cláudio Bili (PTB) e Valquírio Martins (SD).
Tanto em Santos quanto em São Vicente chama atenção o fato de que as intenções de voto em branco e nulo, além dos indecisos somam um percentual maior do que todos os candidatos, corroborando uma tendência nacional, cada vez maior, de rejeição ao sistema eleitoral.
Em resumo, podemos constatar que a estratégia da esquerda institucional de apostar todas as suas fichas nas eleições em um momento de fortalecimento da extrema-direita servirá apenas para eleger, quando muito, um vereador, de forma a garantir cargos e formar blocos ultraminoritários de oposição. No caso das candidaturas mais combativas, as chances são praticamente nulas e os próprios partidos têm consciência disso.
A direita, por outro lado, possui um cardápio variado à disposição para tocar as administrações municipais em benefício das elites. A falta de confiança ou empatia da população trabalhadora com as candidaturas de esquerda deve-se primeiro ao fracasso das gestões petistas a nível nacional, que entraram de cabeça no jogo político institucional e usaram a máquina estatal para aparelhar e domesticar grande parte dos sindicatos e movimentos sociais. O “jeito petista de governar” despolitizou e desmobilizou os trabalhadores. Nesse mesmo sentido parece caminhar o PSOL, partido que nasceu sob o signo da institucionalidade, descolados dos movimentos sociais, priorizando mandatos e candidaturas sob plataformas quase sempre liberais ou reformistas.
Contra o poder econômico dos de cima, fortalecer a organização dos de baixo!
Tal situação só poderá mudar, no nosso entendimento, a partir da rearticulação das organizações sociais de base, nos locais de moradia, nos locais de trabalho, nos sindicatos, nas universidades, nas greves e nas ocupações. Esse movimento deverá se apoiar em um programa revolucionário que aponte objetivos de médio e longo prazo e trace estratégias e táticas de ação coletiva baseadas na democracia direta e no federalismo autogestionário. A transformação social só será possível por fora das urnas.
Só um povo forte e organizado acaba com o poder e o privilégio dos ricos!
Só a luta popular constrói o caminho para uma vida digna!