São 6 meses desde o primeiro caso conhecido da Covid-19 no país, de um homem vindo da Itália. A pandemia chegou ao Brasil assim, por meio de turistas que voltaram da Europa, pessoas ricas e com acesso a saneamento básico, moradia e saúde de qualidade.
Se os de cima sofreram um pouco no começo da doença, logo foram os de baixo as principais vítimas. Morrem centenas de trabalhadores em serviços essenciais – como na limpeza – e precarizados em geral. Sem condições adequadas para se protegerem, moradores das periferias pagaram com a vida pelo descaso dos poderosos. A doença também escancara o racismo estrutural, já que a maior parte dos contaminados e mortos são negros, moradores de bairros mais precários ou em trabalhos mais expostos ao vírus. Quilombos e aldeias indígenas também têm sido bastante impactados pela doença. Mesmo com a pandemia, São Paulo não deixou de fazer reintegrações de posse, desabrigando famílias que já e encontravam em situação de precariedade.
Até esta segunda-feira, 31 de agosto, são 30.014 mortes só no estado de São Paulo. O número supera os óbitos registrados em todo o continente africano e em países como Alemanha, Rússia, Irã e Espanha, além dese aproximar do número de vítimas de França e Itália. Uma verdadeira tragédia, principalmente sobre os mais pobres. Vale destacar que os dados oficiais estão subnotificados: a quantidade de mortes devido à Covid-19 é superior à que tem sido publicada nos últimos seis meses – considerando que o primeiro caso conhecido, em São Paulo, foi registrado em fevereiro.
Hoje, a discussão de governo estadual e prefeitos é a volta às aulas presenciais, um absurdo diante da conhecida condição de muitas escolas públicas de SP. Antes da pandemia, muitas nem tinham sabão para os alunos. Professores denunciam há anos a precarização da estrutura das escolas. Além disso, a própria volta às aulas colocaria em risco os trabalhadores da educação e as famílias dos estudantes.
Pesquisa realizada pela prefeitura de São Paulo, por exemplo, indicou que pelo menos 70% das crianças e adolescentes que já tiveram contato com o vírus não apresentaram sintomas. Na prática, portanto, eles podem se comportar como “vetores de transmissão” da doença, afetando pessoas mais velhas à sua volta. Não podemos excluir, ainda, o fato de que algumas crianças e adolescentes também foram vítimas fatais da Covid-19. Sabendo dos sérios riscos, o governo do estado e as prefeituras têm procurado se isentar das responsabilidades: caberá aos pais e responsáveis assinar um termo autorizando o retorno das crianças e dos adolescentes às escolas – arcando com eventuais problemas que surgirem, como contaminação e morte pela doença.
Enquanto isso, o “gestor” João Doria, em eterna campanha, anuncia como solução uma vacina que ainda está em testes, como se a pandemia não seguisse matando centenas de pessoas toda semana. Apesar de falar diferente de Bolsonaro, teve a mesma política de morte, favorecendo os grandes empresários ao custo de 30 mil vidas.
Durante todo esse período, nós da OASL seguimos fortalecendo as iniciativas de denúncia e de solidariedade nas comunidades, e somando à resistência contra as medidas que colocam em risco trabalhadores e estudantes. Acreditamos que só a organização combativa dos de baixo pode minimizar os graves impactos da pandemia, e também fazer avançar o conjunto do movimento popular para um processo de ruptura com todo esse sistema assassino e injusto!
Organização Anarquista Socialismo Libertário