Metrô-SP: Irresponsabilidade de Bolsonaro não torna Doria sensato

Bolsonaro chocou o Brasil com seu pronunciamento feito na terça-feira (24). O desprezo pela ameaça que representa a COVID-19 e uma série de sandices como reivindicar um “histórico de atleta” para dizer que teria apenas uma “gripezinha, um resfriadinho” se fosse vítima da pandemia mostram o tamanho da sua irresponsabilidade com uma doença que afetará a vida de milhões de brasileiros. Ao contrário do que apontou há dois anos, o governador de São Paulo, João (Bolso)Doria tem tentado se destacar como um oásis de sanidade em meio à loucura da familícia. Porém, onde governa, Doria é tão assassino e cruel quanto o presidente no combate à pandemia – seja oferecendo ração aos pobres, mandando a polícia exterminar a periferia durante a eleição para governador ou, agora, no descaso de seu governo com o transporte público paulista, em especial o Metrô.

Desde a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil, em 26 de fevereiro, está clara a inépcia de Doria para lidar com a epidemia no maior sistema metroferroviário do país. Os metroviários podem se tornar vetor da doença que está dizimando o sistema público de saúde de diversos países: isso significa colocar em risco, diretamente, a vida de 5,3 milhões de passageiros por dia.

Quase um mês depois do diagnóstico, é comum a falta de insumos de higiene para o combate ao vírus. Sabão líquido, álcool gel e papel toalha são itens de luxo em diversos postos de trabalho, como estações, onde se dá com mais frequência o contato direto entre usuários e funcionários. Além disso, mesmo com uma circulação de trens menor que a normal desde a semana passada, os vagões – que é onde os passageiros passam mais tempo dentro do sistema – não estão sendo higienizados entre as viagens.

O Metrô ainda colocou dificuldades no afastamento de funcionários em grupos de risco ou que apresentem sintomas. Mesmo que esse processo tenha se tornado menos devagar nos últimos dias, ainda há problemas na liberação de trabalhadores com parentes em grupo de risco. Já há casos confirmados de familiares de metroviários com o COVID-19. E aí fica a pergunta: como trabalhar bem sabendo que você pode ter contaminado e determinado a vida de um ente querido?

Esse drama não se restringe apenas aos metroviários, mas atinge principalmente aos contratados da limpeza, grupo composto majoritariamente por mulheres, muitas em grupos de risco. Essas trabalhadoras estão sendo ainda mais sobrecarregadas com as novas demandas por limpeza impostas pela pandemia. E muitas delas, precarizadas por salários miseráveis e benefícios escassos, se recusam a se afastar, por medo de demissões e assim passar fome com suas famílias. A quarentena, para essa gente, não é um direito.

Desde a semana passada, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo tem se manifestado por um plano de contingenciamento mais efetivo do Metrô. Diminuição da oferta de trens, fechamento de estações menores, diminuição temporária de postos, escalamento de funcionários e exclusividade de uso para trabalhadores de serviços essenciais e passageiros em situações emergenciais são algumas das propostas da entidade que representa a categoria – pedidos que foram ignorados tanto pelo Governo Doria quanto pela chefia do Metrô, gêmeos siameses (assim como o BolsoDoria) na tragédia que se encaminha no estado mais populoso do país.

Fora dos trilhos do Metrô, o custo de vida literalmente custa a vida da população. A situação dos mais pobres é dramática na cidade mais rica do país. Além de não ter direito à quarentena, o isolamento, para muitos, não é uma possibilidade: afinal, como manter distância de outras pessoas quando há famílias de sete, oito ou dez pessoas morando em casas de dois cômodos em uma periferia sem acesso a serviços básicos de saneamento?

Não há política alguma para garantir a subsistência dessa gente. Depois da peste e da morte, a fome é a maior preocupação para essas pessoas a quem o Estado declarou guerra. Serão as maiores vítimas do colapso da saúde pública, as mais atingidas pela fragilidade cada vez maior das relações de trabalho dessa era pós-Reforma Trabalhista e a aposentadoria, direito dizimado após a Reforma da Previdência, é um sonho cada vez mais distante – inclusive porque a possibilidade de estar vivo até lá pode parecer um milagre.

A depender do Metrô, uma empresa pública estadual sob controle do Governo João Doria, o combate ao novo coronavírus vai ser tão eficiente quanto o Governo Bolsonaro. BolsoDoria ataca com força novamente, mas se o miliciano expôs na última terça-feira suas intenções sem máscaras – talvez por não saber colocá-las -, Doria ainda tenta se vender para o resto do país como uma “fada sensata”, mas só acelera a propagação da COVID-19.

Frente à pressão de patrões e governo sobre a classe trabalhadora, nossa resposta deve ser na mesma medida! Não podemos permitir mais demissões e cortes salariais para que os lucros das empresas sejam garantidos, assim como não podemos aceitar que nossa saúde seja rifada neste momento.

A tragédia precisa de uma resposta à altura. A solidariedade e a luta da classes são as saídas para a pandemia e a crise econômica que se agravará com ela. Uma saída que apenas a classe trabalhadora pode dar, porque solidariedade a define, já que esse sentimento não se encontra nem no Estado e nem nos patrões. A luta por trabalho e salário porque é a nossa força produtiva que gera riquezas e movimenta a economia. Organize sua comunidade, se organize com seus vizinhos e categorias! Somos apenas nós por nós! Não há messias nessa história, e trabalhador só tem desse lado.

Organização Anarquista Socialismo Libertário
março de 2020

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