No dia 03 de março, após diversas manobras, aconteceu a votação definitiva, em segundo turno, pela reforma da previdência do Estado de São Paulo, sob forte manifestação dos por ela afetados, que de maneira resumida, aumentará a contribuição mensal, o tempo de contribuição e a idade para a aposentadoria de trabalhadoras e trabalhadores do setor público.
Em tramitação desde o fim de 2019, o projeto encontrou resistência destes trabalhadores e trabalhadoras que seriam diretamente afetados, principalmente por parte dos professores da rede pública. Depois das artimanhas jurídicas, o processo tomou corpo e o governo do Estado fez pressão, voltando à pauta no fim de fevereiro, vindo a se finalizar agora, com o desmonte da previdência atual em nome de outra que deixará às custas do trabalho dos de baixo a resolução da crise dos de cima. É mais uma dentre as muitas medidas anti-povo que tem objetivo claro de empobrecer a população, sendo mais um passo na agenda neoliberal que assola nosso país, e que tem se mostrado ineficiente para lidar com os problemas econômicos que se julgava sanar.
É de se notar o uso da Polícia Militar, e especificamente da Tropa de Choque, para “apaziguar” a revolta gerada entre trabalhadoras e trabalhadores e que se mostrou logo no início do dia 03. Esse apaziguamento veio na típica truculência das forças repressivas do Estado, respondendo a manifestação, composta majoritariamente por professores, com bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e porradaria generalizada. (http://reporterpopular.com.br/violencia-da-pm-garante-aprovacao-da-reforma-da-previdencia-em-sp/)
Apesar disso, os professores continuaram por muito tempo firmes na luta, conscientes da necessidade de ultrapassar a barreira policial para que suas condições de vida, há anos pioradas paulatinamente por governos sucessivos que têm o claro objetivo de precarizar para terceirizar a educação pública paulista (fazendo com que, em 2020, os professores do estado mais rico do país recebam abaixo do piso salarial nacional) não se tornassem ainda piores. Aconteceram fortes embates com as forças repressivas durante todo o dia, e pode-se dizer que em certo momento, a luta estava pendendo mais para o lado dos trabalhadores.
No entanto, foram muitos obstáculos para a realização da reivindicação, e não só por parte do governo e da força repressiva. Enquanto professores e demais profissionais do setor público lutavam e resistiam bravamente, dentro e fora da Alesp, a direção do Sindicato dos Professores – Apeoesp – há anos tentando deixar impotente, na luta social, o maior sindicato da América Latina, desincentivava a categoria a continuar avançando, chamando-os a recuar cada vez mais. Isso ligado a uma falta de costume de participação em ações radicalizadas como estas – devido à própria política recuada do sindicato – foi amedrontando parte dos lutadores e das lutadoras durante o dia, abrindo espaço para a Tropa de Choque avançar em sua repressão.
Além disso, faltou também, claramente, organização tática em como realizar o embate com as forças repressivas para que se pudesse exercer influência direta na votação. O número de manifestantes era grande, o número de pessoas dispostas a lutar também o era; mas o imediatismo acabou tornando pouco eficazes boa parte das ações dos professores e demais trabalhadores ali presentes.
Apesar destas críticas, a coragem de todos os que se colocaram à frente do processo deve ser notada. Há anos esta revolta está dormente, e agora, muito por conta destes, dentre os quais estivemos nós, da OASL, humildemente ombro-a-ombro com companheiros e companheiras de luta, o caminho para a vitória está traçado: não mais o acordo judicial com patrões e opressores, que na maioria das vezes nem os cumpre; não mais o empenho em garantir a representação engravatada na democracia burguesa, que se mostrou ineficaz contra toda esta política de terra arrasada; não mais a adequação ao menos, prendendo-se na miséria do possível.
Lutadores e lutadoras, no dia 03, mostraram: o caminho agora é a luta e a organização das e dos de baixo, de oprimidos, oprimidas, explorados e exploradas, contra toda essa política nefasta que piora nossa vida e nos rouba a dignidade! O próximo passo é uma presença massiva dos servidores paulistas na manifestação e assembleia do próximo dia 18, e a construção de uma greve das categorias, para derrubar essa reforma!
Organização Anarquista Socialismo Libertário
Março de 2020